Se livrar do vício no trabalho pode ser difícil, mas garante uma vida profissional mais saudável. Veja algumas posturas que podem ajudar neste momento
Negocie com o chefe
Como nada indica que as companhias mudarão essa lógica, cabe ao profissional negociar com a chefia e estabelecer limites saudáveis. Por mais dura que seja a conversa, essa é a única saída. "Existe uma crença entre os executivos brasileiros de que eficiência é dizer sempre ‘sim’ para não contrariar o chefe", diz a coach carioca Eliana Dutra. "Mas é preciso saber aprender a questionar e negociar as ordens com argumentos racionais."
Para a psicóloga Liliana Scheliga, diretora da Mind Solutions, clínica especializada em programas de assistência psicossocial, por mais que exista pressão o profissional deve assumir a responsabilidade apenas sobre aquilo que dá conta de fazer. "Cada novo compromisso terá impacto sobre sua saúde e vida pessoal e é preciso ter uma percepção de nossas limitações, para evitar frustrações", afirma Liliana.
"Por mais que nos sintamos sob pressão, sempre temos uma opção", diz ela. Essas escolhas diárias deveriam ser norteadas por uma meta de carreira. É o que sugere o consultor José Valério Macucci. Para ele, é preciso ter claro qual é seu conceito de sucesso e depois questionar qual é seu ideal de felicidade. Em seguida, deve-se avaliar se esses dois conceitos estão alinhados.
"Só assim o profissional poderá saber se tem assumido os compromissos certos para assegurar sua felicidade, ou se está comprometendo sua saúde em prol de um ideal que não é o dele", diz. Há alguns anos, Valério, que fez carreira em multinacionais de consultoria e auditoria e no Banco Itaú, onde foi executivo de recursos humanos, trocou a vida executiva pela carreira acadêmica e a cidade de São Paulo, onde morava, pela pacata Vinhedo, no interior paulista. Tudo isso em busca de maior qualidade de vida e tempo para a família.
O movimento de carreira de Valério ensina uma lição importante: para administrar bem o fluxo, a saída é ter clareza de seus objetivos no trabalho e na vida. Valério queria ter mais tempo livre para a família quando decidiu não retornar ao mundo executivo depois de sair do Itaú. "É preciso ter critérios claros para definir o que é realmente importante", diz o filósofo Mario Sergio Cortella, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Do contrário, é muito fácil ser dirigido pela agenda do chefe ou por prioridades que não estão alinhadas aos seus planos pessoais.
Encare a mudança
Muitos profissionais atribuem o ritmo alucinado às mudanças imprevistas do mercado: fusões e aquisições, concorrências, evoluções tecnológicas, reestruturações, mudanças de chefe. Todas causam estresse. Em diferentes intensidades, essas situações impactam os indivíduos. Os estudos sobre bem-estar classificam esse impacto em cinco esferas: profissional, financeira, física, social e comunitária.
A operadora de telecomunicações Nextel, por exemplo, usa esse conceito em seu programa de qualidade de vida. Segundo o Instituto Gallup, apenas 7% das pessoas estão bem em todas as cinco dimensões. Conquistar o equilíbrio no trabalho, onde se passa de 50% a 70% do dia, é o passo mais importante para ficar harmonizado em todas as outras. "Quem se sente bem na esfera profissional tem duas vezes mais chances de estar bem nas outras dimensões", diz Alberto Ogata, da Associação Brasileira de Qualidade de Vida.
A melhor maneira de superar o cenário de mudanças constantes é encará-lo e procurar os aspectos positivos que ele traz. Segundo David M. Herold, professor de comportamento organizacional do Georgia Institute of Technology, dos Estados Unidos, pessoas que resistem às mudanças experimentam sentimentos negativos, ficam doentes mais vezes e tendem a pedir demissão mais frequentemente.
A instabilidade também causa medo de errar e de não se adaptar ao novo cenário. A saída para administrar a insegurança em torno das mudanças é procurar informar-se ao máximo sobre elas. "Quem vê o cenário com maior clareza pode perceber novas oportunidades e tirar proveito da transição", diz o coach João Mendes, da Vicky Bloch e Associados.
"Depende de nós bloquear os padrões workaholics que as companhias tentam impor", diz o escritor inglês Nigel Marsh. Uma coisa é certa: nos tempos atuais, esse movimento exige atitude firme. Descuidar desse item é abrir brechas para que o trabalho ocupe partes de sua vida que deveriam ser dedicadas a outras atividades. Uma mensagem final, do filósofo Jean Bartoli: procure encontrar sentido no trabalho, porque nem isso a empresa vai fazer por você.
"É preciso ter um projeto que engrandeça a vida pessoal", diz Bartoli. "A produtividade deve estar a serviço dessa obra, e não o contrário."